A morte vive em mim

Há muito que a morte me procurou,um recortado recanto,para em mim viver entretanto. Sinto-a suja, a prever devorar-me(de dentro para fora) A metade de mim já ocupada se mostra,escondendo o que removeu de meu controlo. A luz da minha metade apagada,Deixando na sombra o que me deixa, O que resta de meus restos. De olhos mastigados, numa ocupação constantese arrasta, …

Contam-se as teias de uma vida

Entalham-se tralhas de inacabadas veias de teias que se esvaiam sem fim,destruídas vidas que se encaixam instruídas, como depressa se evaporam.Encontram-se sentidos sem sentido, os tecidos brancos que se caem entre si,cortando-se partidos em nacos esquecidospelo bafejante vendaval que se esquece e aquece. Espreme-se um final pensamento, um lascar da seiva construtora. Desse será num esgar temperado pelo vento, restarão …

Rotina de Amor Alarve

Traz emoção Uma garrafa de uísque e Outra do Dão Esquece as cerejas E traz daquele pão Para as ameijoas e Ossos pró cão Mas sem varejas… Vem devagar Mas não te atrases Já liguei o fogão Traz as tenazes Para mexer o carvão Calça as meiinhas Que me dão mais tesão Usa as liguinhas… Já passei no quiosque, Na …

Ontem

Ontem, por esta hora, comia uma tosta feita pelas tuas mãos. Ontem, por esta hora, mimavas-me. Ontem, por esta hora, dali a pouco sentiria o teu corpo colado ao meu. Ontem, por esta hora, mimava-te. Ontem, por esta hora, tive ainda mais certezas. Hoje, por esta hora, choro, perdido, por não ser ontem por esta hora.

A tropical fruit lays down On the sidewalk Of a major city   E cresce hortelã em cirílico Contra as paredes do Pártenon Abandonado   A caminho do banco Alguém deixou sobre um muro de laranjais Uma Gillette Blue II Que amarelece   À esquerda, Deitado nas pedras, Um belonófobo mete para a veia O seu vencimento de enfermeiro…   …

Portugal cai

Portugal cai de um arranha-céus a gritar Vitória em todas as janelas  e em todas as janelas há gente a gritar-lhe que cai e ele cai a pensar que voa e voa a pensar que grita e grita a pensar que se ouve e ouve-se a gritar que não pensa e não pensa a cair que só cai e só …

Devoto-me à escrita como quem toca os dedos do oblívio Ciente do tempo E não duvido da angústia que minh’alma enegreceria Num leito de morte   Haveria de querer tocar a vida E beijá-la pelo sol encandeante na boca das mulheres Desinteressado finalmente pela vertigem do cimento a pique E a fome dos abismos   Dou por mim a achar …

Negro

Negro Sou negro Por dentro o corpo dourado E uma velinha a alumiar   Não tenho órgãos internos Quando me sou poeta E em lugar de rins e fígado E carne e sangue Sou catacumbas E Indiana Jones E tempo perdido. Sou explorador Sou demanda Sou os ratos que se inquirem à passagem Daquele estranho   Sou o cego que …

cantos

Escondo a escrita pelos cantos da casa derrapam sólidos mistérios pelos fornos quentes que brilham corto cantos em redor

Árvores que falam

As árvores que falam escrevem cartas de amor no vento.Dançam a melodia dos pássarosQue cócegas fazem por entre os seus ramos. (Como se deixam lavar pela chuva que espreita pela cálida festa,Que se faz ouvir na floresta.) Esfregam ronronares vazios que se acolhem num desfolhar mágicoDe receita feita pelos mais vitrovianos paladares.