condenado à morte

Há meses que vivo com outro fantasma…
eu já não era um homem como outro qualquer… embora já o tenha sido há 20 anos atrás…
eu sorria, cantava e sonhava, era alegria e contemplação… era o João…
desenrolava os dias por entre os dias, fazia uma ou outra tropelia e sonhava em ser feliz…
hoje estou preso, agrilhoado à tristeza, ao sonho, ao plano feito e desfeito, num dia de Dezembro…
só penso, só tenho uma tristeza, e que queria alegria…
sacudo a dor como se fosse gelo das mãos e ela volta com a noite, mesmo sendo verão…
imagino-te na praia de areia branca…
imagino-te no meu Moçambique entrando pela tenda a dizendo-me:
– acorda dorminhoco! já é manhã!
e eu resmungo, pois a lua ainda não se pôs do outro lado do mundo, e, no nosso mundo, ainda são cinco da manhã…
o meu espírito, procura fugir mas estás lá…
uma dor fiel como fel, que se cola a mim como grades imaginárias da prisão do amor…
bebes sumo de laranja, e olhas o sol… que está baixo…
esticas a mão quase tocando-lhe e ele reage, fugindo para mais alto…
uma corça loura e um enorme leão passeiam lado a lado…
um elefante não disfarçando o seu espanto olha para eles, e, sem reparar, embate numa árvore acordando uma família de macacos, que enfurecidos lhe atiram cascas de banana…
o procurador-geral do reino da dor diz:
– condenado à morte!
e, eu…
espero-a, sem muito poder fazer, pois, viver sabendo que existes, sabendo a cor dos teus cabelos, o tom da tua pele, o toque do teu olhar, e a tua pele…
outra vez tua pele que se faz mel em minha alma…
a tua voz, o teu olhar meigo e sedutor, as tuas mãos, o teu andar decidido, tu, enfim tu..
condenado à morte!
porque não?!!
homens melhores que eu também o foram…
outros que te amaram sabem do que falo, e, eu condenado à morte!
à morte, por não te ter, nem conseguir dizer o quanto me fazes falta…
para restaurar a tela que é minha alma…
para restaurar a esperança…
para com tintas mil colorir a minha vida…
eu!
condenado à morte!

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