Negro

Negro

Sou negro

Por dentro o corpo dourado

E uma velinha a alumiar

 

Não tenho órgãos internos

Quando me sou poeta

E em lugar de rins e fígado

E carne e sangue

Sou catacumbas

E Indiana Jones

E tempo perdido.

Sou explorador

Sou demanda

Sou os ratos que se inquirem à passagem

Daquele estranho

 

Sou o cego que sente na cara o rubor

Do ouro

E o coração de outros tempos

Numa nesga de braseiro.

 

Quero roubá-lo!

Resgatá-lo às ruínas de onde me fui

Para ser mundano e museólogo.

 

Deposito em meu cerne

Um saco de pó

E zarpo com ele nos braços

Derivando em fuga e

Deixando para trás um rasto de faúlhas

E fogo-fátuo –

Atrevido a tudo

Mutilado à passagem por tudo o que é velho

E se quebra,

Dentado por demónios antigos…

Gasto por usura

 

Volto depois

Como depois de um magusto em Novembro,

Negro

E é isto que sou

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